
A eira do avô é uma das construções mais antigas destes espaços. Não faço ideia quando terá sido construída. Aqui se secavam, malhavam e guardavam os cereais – milho, trigo, feijão, grão de bico, etc.
Recordo-me de ter aqui vivido o meu tio Zé, irmão da minha mãe. Os meus pais e depois a minha irmã Manuela usaram também esta eira para secar e guardar os produtos da sua agricultura, sobretudo os que eram cultivados aqui no quintal.
Aqui se faziam a descamisadas do milho em cada final de verão. No final havia o bailarico animado por algum dos rapazes que tocava a chamada sanfona ou gaita de beiços.
Quando foi criado o Rancho Folclórico da Costa , o meu pai emprestou esta eira para os ensaios. Quantos segredos estarão escondidos nestes muros e nestas pedras?!
Em 2011 quando se inaugurou a casa restaurada, fez-se aqui na eira uma parte da festa. Veio o Rancho da Costa animar e os muros foram pequenos para acolher todas as pessoas que vieram. Fez recordar um dos tais bailaricos, mas agora com muito mais participantes.
Mesmo no início deste século, a Manuela mandou reparar o telhado e madeiramento. Eu estava então na Guyana Francesa. Esses trabalhos foram pagos com dinheiro da venda do Salto Lobo à Fátima e ao Abel.
Em 2014 esta eira foi de novo cheia de lindas e grossas espigas de milho da família Matias e Silva. Curiosamente milho cultivado no terreno da Corga que pertenceu ao meu avô e agora é da família Silva.
Quando eu vim viver para cá em 2007, olhei este espaço e vi nele um bonito local para acolher e estar com as pessoas que me vinham procurar.
Limpei e fui sonhando com uma coisa linda aqui. Comecei a utilizar.
No verão de 2009 a Ir. Eduarda veio cá visitar-me nas suas férias e as duas fizemos a primeira ornamentação.
Entretanto a casa entrou em obras e eu não tinha onde receber as pessoas. Era aqui que eu atendia sempre que o tempo permitia.
Dei-me conta que era um local precioso, agradável, com privacidade e que comunica bem estar e paz.
Um dia a minha sobrinha Carolina Frade, com 4 ou 5 anitos, veio cá e eu levei-a a visitar este espaço. Ela entrou, olhou, observou e disse-me com ar muito sério: Ó tia, nunca tinhas-me mostrado este lugar do silencioso! Deixa-me ficar aqui sozinha a brincar. Gostei e gosto do nome: O lugar do silencioso como esta criança o sentiu e o viu.
Sempre que para cá vêm crianças e jovens, este é o seu lugar de preferência. Por isso gosto de o manter numa grande simplicidade sem coisas que possam ser estragadas. Um espaço onde os mais jovens e os menos jovens se sentem bem.
O que sonho, vejo e desejo no futuro para este espaço?
Antes de mais guardá-lo e conservá-lo o mais possível no seu original. Ver se será oportuno mudar o telhado, ou apenas repor as telhas partidas. Manter as paredes como estão por dentro e por fora. Aplicar produto de conservação da pedra. Caiar por dentro, uma vez que já está caiada. Manter o chão como está e usar carpete? Ficava bem com esteira de junco. A porta , conservá-la enquanto for possível e colocar uma interna para mais conforto.






Porta em vidro para deixar ver a de fora e deixar entrar a luminosidade pelas frinchas?
Colocar vidro nos buraquitos de luz e arejamento?
E em termos de uso, para que vai ser este espaço?
Vem-me a frase da Carolina: lugar do silencioso – um espaço de silêncio, para estar a sós, para escutar, para escutar os passarinhos e a natureza, escutar o silêncio dentro de si, para saborear o gosto da solidão repousante…
Também um espaço para fazer um ou outro atendimento, para exercícios de relaxamento; para acolher pequenos grupos em reflexão.
Como qualquer coisa que convida à interiorização, à escuta!
E cá fora?
Cá fora, é um espaço agradável para olhar e contemplar a natureza, ao perto e ao longe! Para repousar ao sol quentinho de inverno ou à sombra agradável no verão.
O muro arredondado de si mesmo congrega e convida à comunhão e partilha, à festa!
Continuar a plantar videiras em volta e com elas fazer uma linda latada.
No verão é a sombra, a proteção e a privacidade, as uvas que cada pessoa pode colher e saborear. São o sinal dos frutos saborosos das qualidades pessoais que cada pessoa tem dentro de si e que querem ser conhecidas, cuidadas e desenvolvidas, postas em ação na vida concreta.
De inverno caiem as folhas e pode-se estar ao sol quentinho. As folhas são aproveitadas para cobrir os canteirinhos cultivados.
Na entrada, um grande arco feito de roseiras variadas a convidar a entrar na festa e na alegria de viver.
Cá fora é também um precioso local para visitar a noite, olhar o Céu, as estrelas, o luar, escutar o silêncio, sentir o ar fresco ou quentinho das noites de verão, a limpidez das noites de Outono.
Precioso também para atividades em grupo ao ar livre. Ou simplesmente para estar, contemplar a natureza.
O plano de adorno exterior foi pensado e desenhado no Curso de Permacultura em Março de 2013. Está feito e registado nas folhas.
É um espaço que vejo lindo adornado de vida e festa.
Que bom é, Senhor, ter uma eira que que acolheu e acolhe, foi e é espaço de festa e convívio e festa onde a vida acontecia misturada com as folhas das espigas!
Graças pelo passado, pelo presente e pelo futuro que aqui vai acontecer!
Ir. Margarida Monteiro
Janeiro de 2016