Assim brotaram as Nascentes de Luz

Tudo começou na Família

Meus pais eram simples e humildes agricultores da Costa de Baixo.

Com eles aprendemos a viver o respeito, o acolhimento , o interesse pelos outros, o amor aos mais desprotegidos e necessitados, etc. Aprendemos que Deus é o nosso Pai do Céu e gosta muito de nós – assim dizia a minha mãe.

Minha mãe teve o cuidado de nos ir integrando a todas nas actividades pastorais da Paróquia. Vivíamos duma agricultura familiar. Trabalhávamos no campo.

Aos 23 anos senti de modo muito forte e claro o chamamento de Deus à Vida Religiosa. Em Agosto de 1968 entrei para as Irmãs de S. José de Cluny em Braga .

  • Entreguei-me de alma e coração ao estudo, à oração e depois à missão. Durante 40 anos a minha vida foi um peregrinar contínuo: Braga, por várias vezes, Nazaré, Anadia, Açores, Coimbra, Paris, e mesmo Alemanha em visita, Guiana Francesa, Antilhas, Fátima, Guiné Bissau, Lisboa. Passei por Colégios, Obras Sociais, Centro de Espiritualidade, Missões .

Que fiz?

De tudo um pouco – catequese, pastoral de jovens e vocacional, formação das jovens candidatas à vida Religiosa – cerca de 20 anos – Aspirantes e Postulantes, Mestra de Noviçase de Junires e Formação Permanente . Fui Superiora de Comunidade, dirigi Obras Sociais. Fiz acompanhamento psicológico e espiritual na Congregação e fora. Fui Missionária, etc.

Em toda a parte os preferidos foram sempre os deficientes, os doentes, os mais desfavorecidos, os Sem Abrigo, as famílias, as pessoas em sofrimento.

Ana Maria Javouhey, Fundadora da minha Congregação das Irmãs de S. José de Cluny e libertadora de escravos, teve em mim um forte impacto. Ela libertou homens e mulheres das cadeias da escravatura do seu tempo no século IXX. E hoje , quais são as escravaturas que afectam a nossa sociedade? Desde 1993 que esta questão me inquietava fortemente por dentro.

Para encontrar resposta fui nos finais de 1999 para Paris na Casa Mãe da Congregação. Sabendo da minha busca a Superiora Geral de então chamou-me lá para dialogar, rezar e discernir.

De acordo com esse discernimento em 2000 fui enviada a Maná na Guiana Francesa, ao norte do Brasil. Foi lá que Ana Maria fez a libertação dos escravos negros a pedido de Napoleão.

Vivi lá até 2002, trabalhei no actual Centro de Espiritualidade onde acolhíamos, escutávamos e ajudávamos a nível psicológico e espiritual muitas pessoas – sessões em grupos aos fins de semana e acompanhamento personalizado durante a semana. Foi uma experiência rica e profunda. Percebi que era isso que eu queria fazer a tempo inteiro.

Ao regressar a Portugal, comecei de imediato com as pessoas que já antes acompanhava a fazer o mesmo tipo de acompanhamento. Mas não havia condições.

2004 fui à Guiné Bissau – fome e carência de tudo. Apelo cada vez mais forte: Tenho que fazer alguma coisa mais para ajudar a libertar das cadeias do sofrimento que oprimem as pessoas.

Vivia em Lisboa , na zona antiga e degradada da cidade – os Sem Abrigo, a toxicodependência, a prostituição a pobreza de tudo… Foram 4 anos a sentir a dor destes irmãos e irmãs vindos de todo o lado em busca de algo melhor e caídos na miséria, longe da família e da terra.

Caminhando no meio deles eu senti bem forte e claro no mais profundo de mim:

Deixa o conforto da cidade, deixa as regalias da vida em comunidade e parte para a tua terra. É lá que vai nascer uma coisa nova.

Não foi fácil…eu estava tão bem! Gostava tanto do que fazia – Procuradora das Missões de Angola, Moçambique, Guiné e Brasil! Gostava tanto da cidade. Tudo me estava garantido- casa, trabalho, tudo…

Desenrolou-se um longo diálogo de discernimento com as minhas Superioras e em Junho de 2007 vim para a Costa, vim viver para a casa que herdei dos meus pais.

Vim para uma casa velha, barracões velhos, um espaço grande, mas vazio e eu sozinha! E tinha vivido 40 anos em comunidades de 6 e 20 irmãs.

A minha família acolheu-me, colaborou, colabora e apoia este sonho e este projecto. Saliento o apoio a minha irmã Fátima que desde há muito partilhava comigo o seu sonho de criar na casa dos nossos avós uma obra social para jovens.

Na pobreza e simplicidade dos espaços e da vida fui recebendo e acolhendo as pessoas que já acompanhava para apoio e ajuda psicológica e espiritual. Os frutos eram belíssimos, mas os espaços não estavam adaptados.

Fui trabalhar com os Sem Abrigo na Comunidade Vida e Paz em Fátima como forma de subsistência e mais tarde em voluntariado. Eles vieram ajudar no trabalho do quintal. Foram 2 anos no silêncio, na solidão, na oração e discernimento, na procura…

Entretanto,e por indicação do meu sobrinho Nuno encontrei o Arquitecto José Fava que se entusiasmou com o projecto e se dedicou a ele de alma e coração. Fez e ofereceu o projecto de obras de restauro e adaptação da casa de habitação.

Em Setembro de 2009 fizemos o primeiro convívio de apresentação do projecto – nessa altura chamado – Nascentes de Vida – e já do plano de obras de restauro. Nessa tarde passaram por cá cerca de 60 pessoas, familiares e amigos. Aí surgiu o primeiro convite para fazermos uma Associação para levar por diante esta obra. Eu nunca tinha pensado em tal coisa, mas acolhi o desafio.

Avançámos com a ideia. Encontrámos a Solicitadora Susana Serrano – que desde o primeiro momento se entusiasmou com o projecto e se pôs ao nosso lado para toda a parte jurídica e burocracias necessárias.

Em Janeiro de 2010 constitui-se a Nascentes de Luz – Associação de Apoio à Família, e em Fevereiro seguinte fez-se a 1ª Assembleia, onde foram eleitos os Órgãos Sociais – Mesa da Assembleia, Direção e Conselho Fiscal. De seguida fizeram-se todas as formalidades para legitimar juridicamente a Associação com sede na Rua Principal, 39 Costa de Baixo – Maceira.

Como me cruzei com a Ir. Eduarda?

Em jovem Irmã fui trabalhar para o colégio dos Açores – Ponta Delgada. A Eduarda era lá recepcionista.

Uma jovem muito prendada e competente no seu trabalho, aberta, feliz e buscadora. Ela no acolhimento e eu na secretaria trabalhávamos muito perto  uma da outra. A Eduarda procurava-me para falar, para pedir ajuda. Eu não sabia que ela veio trabalhar com as irmãs em busca da sua vocação.

Foi uma grande alegria para mim quando ela me confidenciou que queria também ser irmã. E veio. Segui o seu caminho e eu o meu como ir. Mais tarde fomos as duas enviadas para a comunidade formativa do Noviciado em Braga.

Aí nos dedicámos de alma e coração à formação das jovens candidatas. Com a ajuda da formação Novah. Abriam-se dentro de nós horizontes novos de vida religiosa hoje no nosso mundo e para o nosso mundo. Sonhávamos com as jovens essa vida religiosa nova, ajustada aos dias de hoje.

Eu segui o meu caminho de busca e a Eduarda o seu. Foi aí que fui à Amazónia, às antilhas nos primeiros anos do século. 2007 depois de um longo discernimento vim para a Costa na Maceira. A Eduarda vinha cá nas suas férias e em 2014 veio em definitivo. 

De que vivem as Nascentes de Luz?

Vivem do amor generoso dos Sócios, Amigos e Voluntários que com as suas quotas, donativos e serviços gratuitos tornam possível que a obra avance e cresça todos os dias. Gota a gota vamos dando passos pequeninos nas obras de restauro e organização dos espaços.

Precisamos de unir forças e energias para fazer das Nascentes de Luz um espaço de Luz, de harmonia e de vida!

Nos tempos difíceis que correm sentimo-nos interpelados a convidar todos quantos se sentem tocados por este sonho e projeto a darmos as mãos para deixar irromper do mais profundo de cada um de nós as nascentes de luz feitas de esperança, confiança, paz, generosidade e vida nova que todos sonhamos e desejamos para nós, para as nossas famílias e à nossa volta.